18/03/20


Coronavírus

Para os veterinários, os vírus corona fazem parte da vida profissional diária, mas agora o coronavírus SARC-CoV 2 ultrapassou a barreira para os humanos. O que é um vírus, como ataca o organismo humano e como podemos responder?                          12 de Março de  2020

 Os vírus estão intimamente ligados ao elemento físico do organismo. Eles originam-se da mesma substância do genoma e, como o genoma, podem influenciar o metabolismo das células, tornando-as estranhas ao organismo. Se ocorre uma infecção, o vírus penetra o organismo. O organismo reconhece que certas células foram alteradas pelo vírus, comportando-se como se não fizessem parte do todo. Inicia-se então um processo de eliminação destas células. É isto que cria os sintomas da doença: o organismo tenta livrar-se das células infectadas para se libertar dos vírus que as invadiram, e para isso lança mão, por exemplo, da tosse, febre e expectoração. Os que morrem duma infecção viral podem, portanto, ser vistos como vítimas do seu sistema imune, cuja regulação é uma expressão da organização do EU, individual, da presença do EU no corpo.

O corpo torna-se “um estranho”
Quanto mais a pessoa se encontra numa situação de alienação do seu corpo físico tanto mais ela, ou ele, serão susceptíveis a esta doença viral, agora chamada COVID-19. É claro que isso é especialmente verdadeiro para os mais idosos, quando os ossos enfraquecem e a massa muscular diminui, ou no caso de doenças crónicas.
A infecção por coronavírus é particularmente difícil de tratar em pessoas com mais de 80 anos de idade e em pessoas com diabetes tipo II ou doenças cardiovasculares. Quanto menos eu estiver presente no meu corpo – quanto menos o permeio - mais facilmente a infecção se poderá espalhar e mais sérias as suas consequências. Obviamente, é importante a forma como a pessoa que tem um teste positivo é tratada. As pessoas doentes são muitas vezes removidas abruptamente do seu ambiente doméstico e colocadas em hospitais, junto com outras pessoas doentes e com acomodação inadequada. Infelizmente, a medicina convencional não possui medicamentos úteis, nem vacina, para oferecer neste caso. Muitas vezes, a febre é reduzida usando medicamentos. No entanto, em casos graves, o uso de oxigénio e, se necessário, a ventilação mecânica temporária podem ajudar a sobreviver, e é por isso que é importante que os cuidados médicos se concentrem em pacientes mais gravemente atingidos.
Com base no que conhecemos, a ansiedade e os tratamentos com antipiréticos colocam os pacientes em risco. O que ajuda as pessoas a ultrapassar a doença é tudo o que as ajuda a penetrarem melhor o seu corpo físico, como o calor, sentindo-se mais à vontade nele. Portanto, não é de surpreender que a doença seja rara nas crianças. O que também é verdade até aos 50 anos, onde o curso da doença geralmente corresponde ao da gripe normal. Tosse, rinite e fadiga são os primeiros sintomas típicos. Além disso, a pneumonia pode ser um aspecto perigoso da doença, que é inicialmente reconhecível principalmente por uma frequência respiratória mais alta.
Este vírus tem características particularmente negativas do ponto de vista médico. Pode levar muito tempo até o organismo acordar e perceber que há um hóspede estrangeiro a bordo, ameaçando causar danos. Existe um caso conhecido de doença em que ela só se manifestou 27 dias após a infecção. No entanto, em média, esse período é de 5 dias e 95% de todos os casos manifestam-se após 12,5 dias. Portanto, os afectados ficam em quarentena por um longo período de duas semanas. Este vírus também é mais contagioso do que um vírus normal da gripe. Em média, uma pessoa com o vírus da gripe normal infecta 1,3 pessoas, enquanto alguém com o coronavírus tem mais probabilidade de infectar 3 pessoas (para uma doença altamente infecciosa, como sarampo ou tosse convulsa, o número é de 12 a 18). A taxa de infecção é, portanto, maior que a da gripe e também leva mais tempo para se manifestar. A combinação dessas características, que favorecem a disseminação de uma epidemia, deixa os médicos em todo o mundo apreensivos. 

Relação com o reino animal
No entanto, surge um grande quebra-cabeças: de onde vêm estes vírus aparentemente novos e porque se desenvolveram? Curiosamente, muitos dos vírus vêm do reino animal. O coronavírus provavelmente provém do morcego javanês. Então, porque é que os vírus do reino animal se tornam perigosos para os seres humanos? No momento, estamos infligindo sofrimento incalculável em animais: o abate em massa e a experimentação em animais de laboratório causam uma dor que e o reino animal já não pode suportar. Pode este sofrimento ter como consequência a alteração de vírus que são nativos do animal? Estamos acostumados a olhar apenas para o aspecto físico e separamo-lo da mente e das emoções. A pesquisa sobre a flora intestinal, o microbioma, que inclui não apenas bactérias, mas também vírus, prova o oposto. Isso levanta não apenas a questão microbiológica da origem do vírus, mas também a questão moral de como lidar com o mundo animal. Rudolf Steiner apontou estas conexões há mais de 100 anos. Nos dias de hoje, cabe-nos investigar essas relações e fazer perguntas mais profundas, para além da análise científica. 

O que podemos fazer?
Existem várias medidas que podemos tomar nas nossas vidas pessoais para ajudar o nosso organismo a superar a doença. Isso inclui abster-se de álcool, tabaco, moderar o consumo de açúcar e manter ritmos de vida, com sono reparador e uma relação activa com o sol. O nosso sistema imunológico sofre com a falta de luz solar, uma deficiência mais grave no mês de Março. Analisando ao longo do ano, a maior taxa de mortalidade, nas nossas latitudes, verifica-se no final de Março. O que está relacionado com a falta de luz solar durante os meses de Inverno e nos lembra que é extremamente importante sair para o ar livre todos os dias e no Inverno, se possível, ao meio-dia, conectar-se com o ambiente exterior e o cosmos. Ao fundar a Medicina Antroposófica, mesmo antes da descoberta da vitamina D. Rudolf Steiner usou a tuberculose como exemplo para explicar esse detalhe. É verdade que, para o sistema imunológico, os comprimidos de vitamina D apenas podem substituir a absorção da luz solar de forma limitada. O fósforo e o ferro meteórico dinamizados, ingeridos pela manhã, podem também apoiar o sistema imunológico, como substâncias ligadas ao elemento luminoso. Também são recomendados, para os mais idosos, com doenças cardiovasculares, remédios básicos antroposóficos para o sistema cardiovascular, caminhadas regulares e sono reparador. Os que dormem menos de seis horas são muito mais susceptíveis a estas infecções. 

Uma respiração saudável entre os seres humanos
Se a doença ocorre, a quarentena é actualmente recomendada, embora os casos leves possam, e devam, ser tratados em casa. Parece-me importante salientar que a Medicina Antroposófica tem décadas de experiência no tratamento de pneumonias virais e bacteriana sem antibióticos, com medicamentos antroposóficos e aplicações externas que podem ser extremamente eficazes. Os médicos da Secção Médica elaboraram um plano de tratamento e disponibilizam-no aos colegas, a nível internacional.
O que enfraquece os pulmões? Duas coisas: falta de relação com a terra e o sol e tensões sociais. Portanto, é aconselhável proteger os pulmões, o órgão da respiração, quer por dentro quer por fora, tentando equilibrar as tensões sociais. Na minha opinião, aqueles que estão em conflitos sociais não resolvidos estão cada vez mais em risco. A medicina promoveu a crença de que as vacinas podem proteger contra todas as infecções. É um erro. Até a vacinação contra a gripe oferece apenas uma taxa de protecção de 10 a 30%; lavagem cuidadosa das mãos e higiene ao assoar o nariz e ao tossir são igualmente eficazes - sem os possíveis efeitos colaterais da vacinação. Portanto, é um passo importante para romper esta imagem temerosa e defensiva do meio ambiente e do nosso próprio corpo, perguntarmos o que podemos fazer para apoiar a nossa vitalidade e integridade.

Georg Soldner (elemento da secção médica do Goetheanum, Suíça)
(Adaptado a partir do texto publicado originalmente na revista “Das Goetheanum”, 13 de Março, 2020)