24/06/13

excertos de uma entrevista feita à Dra. Manuela Tavares

Em que áreas é que a medicina convencional pode, eventualmente, ser a única alternativa? 
Em toda a medicina de urgência - as reanimações, as situações de enfarte do miocárdio e de insuficiência cardíaca, os comas, os acidentes com fracturas múltiplas, as infecções graves. 

E fora dessas situações? 
Em todas as situações crónicas, evolutivas, em que a pessoa vai sofrendo ao longo da vida, com o tipo de doença que "não mata mas mói", a medicina convencional tem armas pouco eficazes que obrigam uma pessoa a tomar medicamentos para toda a vida ou a fazer tratamentos com contrapartidas por vezes graves.  

Pode exemplificar?
Por exemplo, fazer anti-inflamatórios de maneira crónica, ou cortisona, vai naturalmente provocar reacções adversas no organismo, reacções que serão como uma segunda ou terceira doença, para além daquela(s) que a pessoa já tem. Não há dúvida de que é preciso encontrar outra maneira de tratar as coisas, que permita às pessoas conviverem com a sua doença de outra forma. É isto que eu procuro pois, sendo médica, a minha função é tratar as pessoas, de preferência sem lhes fazer mal. Uma das regras de Hipócrates é «primeiro, não fazer mal». 

E isso não acontece na medicina convencional?
Na medicina convencional acabamos sempre for fazer algum dano, pelo que é importante criar maneiras de tratar as pessoas sem lhes criar outros tipos de mal estar ou dependências. 

Nas situações que referiu, em que as pessoas precisam de tomar medicamentos para o resto da vida, é possível serem tratadas com homeopatia apenas durante um período de tempo? No caso de ser necessário tomar para sempre não há efeitos nefastos? 
Em muitos casos há uma série de problemáticas em que é possível tratar e melhorar bastante. Tenho alguns casos de pessoas asmáticas que melhoram o suficiente para, durante vários anos, não precisarem de tomar medicação. O que acontece é que, passados alguns anos, em situações de stress ou de mudanças drásticas, voltam a ter crises de asma. 

Mas, nesses casos, estamos descansados porque, mesmo que seja necessário fazer novamente uma medicação, a mesma não terá efeitos secundários.
Exactamente. 

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Considera que a homeopatia, ao contrário da medicina convencional, é uma terapêutica que tenta tratar a pessoa no todo?
O médico da medicina convencional preocupa-se com aquilo que ele pode palpar, pesar, contar e medir; com a materialidade das coisas. Há matéria por detrás, ou não? Posso ver na análise ou não? Se não posso ver na análise ou no microscópio, então isso não existe, ou é para o psiquiatra. Agora, o que é um facto é que a pessoa sente-se doente, tem um problema, uma dor, ou perturbações a vários níveis, embora nada apareça quer na análise, quer no microscópio. Por isso, tem de ser vista de uma forma global. Uma grande parte da nossa saúde está no aspecto mental. Já os gregos diziam - e eles disseram tudo - mente sã em corpo são. Ora, a mente e o corpo têm que ser vistos como uma globalidade. Uma pessoa que teve um desgosto que não pôde chorar convenientemente, que tem uma situação diária de drama ou dificuldades conjugais, não pode ter uma mente sã e, obviamente, não pode ter um corpo são. O corpo vai começar a dar sinais de que as coisas não estão bem. Todos conhecemos, e existe cada vez mais na medicina convencional, uma coisa que é a psicossomática em que se descobriu, por exemplo, que a úlcera duodenal está intimamente relacionada com situações de stress. Muitas situações a nível reumatismal - artrites, fibromialgia, etc. - têm causas psicossomáticas. Não se podem tratar corpos sem, de alguma forma, tratar "mentes". 

Por isso, as suas primeiras consultas são bastante demoradas, preocupa-se em saber a história da pessoa. 
Exactamente. Numa primeira consulta com um adulto tem de se abordar muitos temas. É evidente que não tenho a veleidade de ficar logo a conhecer a pessoa. Muitas vezes, nem ao fim de duas, três ou vinte consultas, pois há núcleos em que não se pode tocar ou que eu, pelo menos, não me atrevo a tocar. Mas vou, a pouco e pouco, tendo noção de como reagem e quais as problemáticas subjacentes.

E quando se trata de crianças?
Nesses casos é evidente que eu só a conheço verdadeiramente e só posso tratá-la convenientemente quando conheço a família. Daí aquela ideia do médico de família, que já tratou a mãe e a avó, ter muito valor. Quantas vezes me acontece que as crianças vêm só acompanhadas pela mãe e só quando conheço o pai e o ambiente com os outros irmãos é que percebo certas situações.