ALGUMAS PISTAS PARA REDUZIR
A
EXPOSIÇÃO AOS HERBICIDAS À BASE DE GLIFOSATO
(e ajudar o organismo a lidar com
o que entrar)
Neste documento encontra alguns conselhos que irão
ajudar a reduzir a exposição e impacto do glifosato. Esta lista não é
exaustiva, nem é preciso fazer tudo o que está indicado para receber
benefícios. Basta escolher alguns dos itens – os que pode incorporar no seu
dia-a-dia desde já sem dificuldade – e depois ao longo do tempo tentar
introduzir mais algumas mudanças. Como não há limiar de segurança, qualquer
passo na direção certa já vale a pena.
O glifosato pode ser inalado (quando é pulverizado em
ruas ou jardins, por exemplo) ou ingerido (através da comida, água ou, por
exemplo quando uma criança brinca em áreas previamente tratadas e leva as mãos
à boca). O glifosato, depois de aplicado, está presente nas folhas, sementes,
frutas e até na carne. Os resíduos não se removem com lavagem nem se degradam
durante o processamento alimentar (por exemplo, ao ferver os alimentos). Na
verdade não desaparecem sequer ao fim de um ano em alimentos congelados ou
desidratados.1
💥 Não use herbicidas como o Roundup. O Roundup é o herbicida à base de
glifosato mais conhecido, e vende-se livremente nos supermercados. Mas muitos
outros herbicidas têm glifosato na sua composição – assim como outras
substâncias igualmente nocivas. Por isso a regra é simples: o melhor glifosato é
aquele que não é usado.
Se quiser ir mais longe: deixe também de usar
inseticidas, fungicidas... pesticidas sintéticos em geral, seja em casa, na
horta ou no jardim.
💥 Se mora em zonas rurais, afaste-se ou
mantenha-se dentro de casa com janelas fechadas enquanto algum vizinho
estiver a pulverizar pesticidas. O glifosato é particularmente tóxico se
for adquirido através da inalação.2
Se quiser ir mais longe: converse com os seus vizinhos
que usam pesticidas e ajude-os a encontrar alternativas economicamente viáveis
que sejam também compatíveis com a saúde e o ambiente.
💥 Lave as mãos antes de comer e depois de jardinar ou brincar/passear em parques ou
outras zonas públicas de lazer. Algumas autarquias portuguesas não aplicam
herbicidas (veja lista em https://tinyurl.com/quercusglifosato) mas
infelizmente a maioria ainda usa (e a maioria das que usam... usa glifosato).
Se quiser ir mais longe: pergunte à sua câmara
municipal porque é que ainda não abandonou os herbicidas sintéticos na limpeza
de espaços públicos (se for o caso). Esses químicos, de acordo com a Lei
26/2013, só podem ser empregues em último recurso ("Em zonas urbanas e de
lazer só devem ser utilizados produtos fitofarmacêuticos quando não existam
outras alternativas viáveis, nomeadamente meios de combate mecânicos e
biológicos.").
💥 Quando entra em casa, descalce os sapatos e
mude para calçado de interior. Ou seja, separe o calçado que vai à rua do que
usa em casa. Assim alguma contaminação que vier agarrada às solas não passa da
porta.
💥 Na medida do possível aumente o consumo de
alimentos produzidos por agricultura biológica certificada. Este modo de
produção não permite o recurso a pesticidas químicos de síntese, o que inclui o
glifosato. Embora exista por vezes contaminação residual (até a água da chuva
pode transportar glifosato) as evidências apontam para uma carga química muito
inferior nos produtos bio. De facto, a transição de uma dieta convencional para
uma biológica (ou seja, em que pelo menos 80% dos alimentos são de origem
biológica) reduz cerca de 90% da exposição aos pesticidas (em apenas uma
semana).3
💥 No caso dos alimentos de origem animal (carne, leite,
ovos e derivados), se não tem acesso a pecuária biológica, escolha opções em
que os animais vivem ao ar livre e com acesso a pastagens, ou seja, em que a
alimentação não é à base de rações. Em Portugal os principais ingredientes das
rações animais são OGM (organismos geneticamente modificados, também conhecidos
por transgénicos). Os OGM são, na sua maioria, tolerantes ao glifosato. Isso
significa que, contrariamente às culturas convencionais, o glifosato é aplicado
ao longo do ciclo de crescimento das plantas: é inevitável que o produto final
acabe por apresentar doses de herbicida muito significativas.
Os OGM não são usados apenas para rações. Em Portugal
vale a pena ler os rótulos: se mencionar "soja geneticamente
modificada" ou "milho geneticamente modificado" é melhor não
comprar. Alguns OGM não levam glifosato mas como a rotulagem não diferencia, a
única forma de evitar o acréscimo de glifosato é evitar todos os OGM.
Atualmente os OGM encontram-se sobretudo na secção dos óleos alimentares.
💥 Modere o consumo de pão, batatas e cereais não
biológicos (quer sejam integrais
ou refinados). Vários estudos laboratoriais têm comprovado a presença regular
de glifosato nestes alimentos, mesmo não sendo transgénicos.4
Se quiser ir mais longe: pergunte ao supermercado ou
marca alimentar da sua preferência se as batatas e os cereais (trigo, aveia,
arroz, milho, e seus derivados) que leva para casa foram pulverizados com
herbicida previamente à sua colheita. Esta prática (conhecida por dessecação)
está autorizada em Portugal na batateira e muitos países permitem-na em
culturas cerealíferas. Como os cereais formam de facto a base da alimentação
(farinhas, pão e broa, massas, flocos de aveia, papas infantis, corn flakes e
cereais de pequeno almoço, arroz sob todas as formas, etc), a dessecação é das
principais responsáveis pela presença de glifosato na alimentação.
💥 Cozinhe em casa com alimentos em que possa ter confiança. Comer
fora, em cantinas ou restaurantes, significa ter pouco ou nenhum controle sobre
os ingredientes que lhe chegam ao prato. Se estiver fora à hora da refeição
talvez possa organizar o dia de modo a levar consigo a sua marmita quando sai
de casa.
Se quiser ir mais longe: embora nem todos consigam, é
possível para muitos cultivar uma pequena horta. Seja na varanda, ou em vasos à
janela, vale a pena produzir algumas das plantas que consome – e neste caso tem
100% de certeza que não foram usados quaisquer herbicidas.
💥 Embora não seja usado comercialmente como antibiótico,
o glifosato tem essa característica (descrita na própria patente).6 Também se sabe que o glifosato aumenta a resistência dos
micróbios a outros antibióticos.7 Por isso é sensato incluir alimentos probióticos na
alimentação, nomeadamente alimentos fermentados (iogurte simples, chucrute,
picles, kombucha, miso... sobretudo se não forem aquecidos ou pasteurizados).
💥 A glutationa é uma molécula com função antioxidante
muito importante para o organismo humano.8 Se não existir glutationa suficiente as células e
tecidos podem sofrer danos devido ao glifosato. Para potenciar a produção de
glutationa pelo organismo deve comer alimentos ricos em enxofre tais
como alhos, cebolas e crucíferas (couves, nabos e demais hortícolas desta
família). Também alimentos ricos em soro de leite, como o requeijão, contribuem
para facilitar a síntese de glutationa.
Se quiser ir mais longe: use diariamente curcuma, ou
caril à base de curcuma, na alimentação. Estas especiarias indianas têm muitas
outras vantagens para a saúde, por isso os benefícios são múltiplos.
💥 Ninguém pode passar sem água. Mas em Portugal não é
obrigatório, para já, analisar a água da rede pública ou a água engarrafada
para se saber quanto glifosato contém. No entanto existem regras: segundo a
Diretiva 98/83/CE a concentração de glifosato não pode ultrapassar os 0.1 ng/ml
(nanogramas por mililitro) na água de beber. Vale por isso a pena perguntar
à sua câmara ou serviço municipal, num email simples, se a água que lhe
chega a casa cumpre esse limite. Normalmente não lhes cabe a eles fazer
esta análise, mas é certamente da sua responsabilidade preocupar-se com o
problema e informar o público a esse respeito.
Como o glifosato é excretado pelos rins, beber
bastante água diariamente vai ajudar a removê-lo do organismo. Mas claro, a
água não pode ser ela própria uma fonte de contaminação.
Se quiser ir mais longe: insista junto dos responsáveis
camarários para que exijam à entidade responsável pela gestão da água em alta a
realização das análises e publicação dos resultados. O trabalho tem de ser ser
feito por laboratório acreditado, em diferentes meses (o uso do glifosato não é
uniforme ao longo do ano), em cada uma das captações de água e abranger também
o AMPA (a substância em que o glifosato se transforma quando se degrada).
Referências
1. Krüger, Monika, et al.
"Detection of glyphosate residues in animals and humans." Journal of
Environmental & Analytical Toxicology 4.2 (2014): 1.
2. Koller, Verena J., et al. "Cytotoxic and
DNA-damaging properties of glyphosate and Roundup in human-derived buccal
epithelial cells." Archives of toxicology 86.5 (2012): 805- 813.
3. Oates, Liza, et al. "Reduction in urinary
organophosphate pesticide metabolites in adults after a week-long organic
diet."Environmental research 132 (2014): 105-111.
4. Myers, John Peterson, et al. "Concerns over
use of glyphosate-based herbicides and risks associated with exposures: a
consensus statement." Environmental Health15.1 (2016): 19.
5. Shehata, Awad A., et al. "The effect of
glyphosate on potential pathogens and beneficial members of poultry microbiota
in vitro." Current microbiology 66.4 (2013): 350-358
6.
https://gmoanswers.com/ask/why-did-monsanto-patent-glyphosate-antibiotic-also-
medical-establishment-has-been-preaching
7. Kurenbach, Brigitta, et al. "Herbicide
ingredients change Salmonella enterica sv. Typhimurium and Escherichia coli
antibiotic responses." Microbiology 163.12 (2017): 1791- 1801.
8. El-Shenawy, Nahla S. "Oxidative stress
responses of rats exposed to Roundup and its active ingredient
glyphosate."Environmental Toxicology and Pharmacology 28.3 (2009):
379-385.
Preparado por:
Plataforma Transgénicos Fora
Fevereiro de 2019
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