5G: O Assalto Final
by
Jeremy Naydler
Artigo publicado na revista “New View –
Winter 2018-19”
5G do espaço
Em
novembro deste ano (2018), a Comissão Federal de Comunicações dos Estados
Unidos (FCC) autorizou a empresa de foguetes SpaceX, propriedade do empreendedor
Elon Musk, a lançar uma frota de 7 518 satélites para completar o ambicioso
esquema da SpaceX de fornecer serviços globais de banda larga, por satélite, a
cada canto da terra. Os satélites operarão a uma altitude de aproximadamente
210 milhas e irradiarão a Terra com frequências extremamente altas, entre 37,5 GHz
e 42 GHz. Esta frota será um complemento à frota menor SpaceX, de 4 425
satélites, já autorizada no início do ano pela FCC, que irá orbitar a Terra a
uma altitude de aproximadamente 750 milhas e que nos deve irradiar com
frequências entre 12 GHz e 30 GHz. O total geral dos satélites SpaceX é,
portanto, projetado para atingir quase as 12 000 unidades.
Atualmente,
existem aproximadamente dois mil satélites em pleno funcionamento, orbitando a
Terra. Alguns transmitem GPS comercial (ou “SatNav”), alguns fornecem TV,
alguns fornecem serviços de telefone móvel, outros refletem o radar de um lado
para o outro para produzir imagens para meteorologistas e vigilância militar. A
Terra, portanto, já está irradiada de forma abrangente do espaço exterior. Mas
as novas frotas da SpaceX irão constituir um aumento maciço no número de
satélites nos céus acima de nós, e um aumento proporcionalmente massivo na
radiação que chega à Terra a partir deles. A frota de satélites SpaceX é, no
entanto, apenas uma das várias que serão lançadas nos próximos anos, todas com
o mesmo objetivo de fornecer serviços globais de banda larga. Outras empresas,
incluindo a Boeing, One Web e Spire Global, lançam suas próprias frotas
menores, elevando o número total de novos satélites de banda larga para cerca
de 20 000 - cada um deles dedicado a irradiar a Terra em frequências similares
(fig. 1). 1
FIGURA 1 - Satélites irradiam 5G. (ZdNet.com.)
Porquê
esta agitação súbita de atividade? As novas frotas de satélites estão a contribuir
para um esforço global conjunto para “atualizar” o ambiente eletromagnético da
Terra. A atualização é geralmente chamada de rede sem fios 5G ou de quinta
geração. Tornou-se habitual nos círculos de tecnologia falar sobre a introdução
do 5G como envolvendo a criação de um novo “ecossistema eletrónico” global. Isto
equivale a geoengenharia numa escala nunca antes tentada. Enquanto isso está a
ser vendido ao público como um aperfeiçoamento da qualidade de streaming de vídeo para mídia e
entretenimento, o que está realmente a impulsionar é a criação das condições em
que a inteligência eletrónica ou “artificial” será capaz de assumir uma
presença cada vez maior nas nossas vidas.
Num
artigo anterior para New View, (“Radiation, Robot Bees and 5G”, Nova Visão, 85,
Outono de 2017), descrevi como a introdução do 5G exigirá centenas de milhares
de novos mini-postes de telefone móvel (também conhecidos como “Estações base”)
em centros urbanos em todo o Reino Unido e literalmente milhões de novas estações
base em cidades por todo o mundo, todas emitindo radiação em frequências e em
níveis de potência muito mais altos do que aqueles aos quais estamos sujeitos
atualmente. Estas novas estações base são muito menores do que as que estamos
habituados a ver ao lado das nossas estradas e no topo de edifícios. Elas
estarão discretamente colocadas ao lado de lojas e escritórios ou presas a
postes de luz. Os 20 000 satélites são um complemento necessário a este equipamento
em terra, pois eles garantirão que áreas rurais, lagos, montanhas, florestas,
oceanos e regiões selvagens, onde não há edifícios nem postes de iluminação,
serão incorporados à nova infra-estrutura eletrónica. Nem uma polegada do globo
estará livre de radiação.
Dada a escala do projeto, é surpreendente
como poucas pessoas estão conscientes da dimensão do que está agora a começar a
se desdobrar ao nosso redor. Muito poucas pessoas ouviram falar dos 20 mil
novos satélites que devem transformar o planeta num chamado “planeta
inteligente”, irradiando-nos dia e noite. Nos meios de comunicação social não
ouvimos vozes questionando a sabedoria, sem falar da ética, da geoengenharia de
um novo ambiente eletromagnético global. Em vez disso, há uma aceitação alegre
de que a tecnologia deve continuar a progredir, e que a presença nas nossas
vidas de máquinas e aparelhos cada vez mais “inteligentes”, que a cada ano se
tornam mais inteligentes e mais capazes, é parte inevitável desse progresso. E
quem não quer progresso? Quase todo mundo adora telefones, portáteis e outros
equipamentos virtuais elegantes e sedutores, e considera-os uma parte
indispensável das suas vidas. Mas a pergunta que devemos fazer é se também
queremos uma exposição cada vez mais intensa do ambiente natural e de todas as
criaturas vivas, incluindo nós mesmos, a uma radiação cada vez mais
eletromagnética. É provável que isso não implique consequências adversas para a
saúde, como afirmam tanto o governo quanto a indústria? Se as ondas
eletromagnéticas que conectam os nossos smartphones
à Internet viajam através de tijolos, pedras e cimento, então o que acontece
quando essas mesmas ondas encontram os nossos corpos? Certamente que elas não se
limitam apenas a abandonar os nossos corpos! Eles viajam dentro do corpo humano.
O grau em que são absorvidas pode ser medido com precisão na chamada Taxa de
Absorção Específica, expressa em Watts por quilograma de tecido biológico.
Quando enchemos as nossas casas com Wi-Fi, estamos a irradiar os nossos corpos
continuamente. Quando colocamos um smartphone
no ouvido, as ondas eletromagnéticas irradiam os nossos cérebros (fig.2). Nós
realmente acreditamos que isso poderá ser completamente inofensivo?
FIGURA 2 - As cores
indicam a Taxa de Absorção Específica (SAR) da radiação do telemóvel. A SAR é a
quantidade de energia absorvida pelo tecido, medida em watts por quilograma,
mostrada aqui a vermelho para o valor mais alto e a azul para o mais baixo.2
Ondas
e Frequências
Actualmente, os telemóveis, smartphones, tablets, Wi-Fi e outros, operam a menos de 3 GHz, na chamada região
“microondas” do espectro electromagnético. Se pudessemos ver e medir os seus
comprimentos de onda, descobriríamos que
têm muitos centímetros de comprimento. Um smartphone
operando a 800 MHz, por exemplo, envia e recebe sinais com comprimentos de onda
de 37,5 centímetros. Operando a 1,9 GHz, os comprimentos de onda são de 16
centímetros. O Wi-Fi usa a banda de frequência de 2,4 GHz, com comprimentos de
onda de 12 centímetros. A introdução de 5G implicará o uso de frequências
consideravelmente mais altas que estas, com comprimentos de onda
correspondentemente menores. Acima de 30 GHz, os comprimentos de onda são
apenas milímetros, em vez de centímetros. A faixa de onda milimétrica (de 30
GHz a 300 GHz) é chamada de Frequência Extremamente Alta, e seus comprimentos
de onda têm entre 1 e 10 milímetros.3 Até ao presente, a radiação
eletromagnética de Frequência Extremamente Alta não tem sido amplamente
propagada, e sua introdução marca uma mudança significativa no tipo de energia
eletromagnética que se tornará presente no ambiente natural (fig.3).
FIGURA 3 - Frequências e comprimentos de onda de smartphone, Wi-Fi e 5G.
A razão pela qual as ondas milimétricas
devem ser usadas para o 5G é que bandas de espectro muito maiores estão
disponíveis nas Frequências Extremamente Elevadas, em relação às frequências
mais baixas. Isso significa que pode haver “largura de banda” muito mais ampla.
Largura de banda mais ampla significa que grandes quantidades de dados podem
ser transferidas e a velocidade de transferência dos dados será
significativamente mais rápida. Um dos efeitos disso é que ele reduz o que é
chamado de “latência” ou atraso de tempo no sistema, melhorando a qualidade do streaming de vídeo. Mas, ao fazê-lo,
também permite uma maior uniformidade entre os dados acessíveis a partir de
fontes virtuais e as nossas percepções de objetos no mundo real, como é necessário,
por exemplo, em aplicações de Realidade Aumentada. Maior uniformidade significa
que habitamos mais facilmente os mundos natural e eletrónico, como se fossem
uma única realidade.
Um dos problemas técnicos do uso de
frequências na região milimétrica do espectro é que, como as ondas que
transportam os dados são tão pequenas, com apenas milímetros de comprimento,
elas têm mais dificuldade em passar por barreiras físicas, como paredes e
árvores, do que as ondas mais longas, de frequências mais baixas. É por isso
que é necessário ter muito mais novas
estações base de telefone. Elas precisarão de estar espaçadas 100
metros nas cidades, porque além dessa distância, os seus sinais enfraquecem e,
portanto, têm dificuldade em penetrar nos edifícios e de se conectarem com os
dispositivos internos. Além de estarem mais próximas, as estações base 5G
operarão com uma potência muito maior do que as atuais, a fim de garantir que
os sinais sejam suficientemente fortes. Como os comprimentos de onda são muito
menores, as antenas que os transmitem e recebem também são muito menores do que
as atuais. Um único transmissor/receptor 5G terá um grande número de pequenas
antenas, agrupadas numa unidade. Um conjunto de pouco mais de mil antenas assim
mede apenas quatro polegadas quadradas, então cabe facilmente numa pequena
estação base, num poste de luz, enquanto o smartphone
no nosso bolso provavelmente terá dezesseis (fig.4).
FIGURA 4 - Módulo de arranjo de antenas de onda milimétrica da Qualcomm
para um smartphone 5G. Tem quatro
antenas que podem apontar com precisão para a estação base 5G mais próxima. Os
telemóveis terão quatro desses módulos, ou seja, dezesseis antenas.4
Tanto os satélites 5G quanto os postes
terrestres 5G usarão um sistema chamado “phased array”. No arranjo faseado, os
grupos de antenas são coordenados para irradiar vibrações numa direção e numa
sequência de tempo especificados. Isso permite que um feixe concentrado de
ondas de rádio seja exatamente destinado a alvos designados, para permitir que
os sinais sejam enviados ou recebidos. Como os feixes estão concentrados dessa
maneira, isso aumenta a sua potência, o que significa que eles são mais capazes
de penetrar nos edifícios. Mas isso também significa que qualquer criatura viva
que fique no caminho dum feixe concentrado será submetida a uma poderosa dose
de eletricidade radiante de frequência extremamente alta. Um estudo publicado
no início deste ano demonstrou que certos insetos, devido ao seu pequeno
tamanho corporal, são particularmente vulneráveis às ondas milimétricas das
frequências mais altas a serem utilizadas pela 5G (fig. 5) .5 Outros
estudos mostraram que bactérias e plantas também são vulneráveis e, como se
poderia esperar, também o são a pele e os olhos dos animais, incluindo, é
claro, os seres humanos.6
Além da sua capacidade de concentrar
energia em feixes focalizados, a tecnologia “phased array” tem um outro fator
importante. Em ambos os lados do feixe principal, os intervalos de tempo entre
os impulsos são diferentes dos intervalos de tempo entre os do feixe principal,
mas podem sobrepor-se uns aos outros de forma a produzir mudanças extremamente
rápidas no campo electromagnético. Isto pode ter um efeito particularmente
prejudicial nos organismos vivos, porque, em vez da radiação decair, quando é
absorvida no tecido vivo, pode ser re-irradiada dentro do corpo. As cargas em
movimento fluindo para o corpo, efetivamente tornam-se antenas que re-irradiam
o campo eletromagnético e o enviam para dentro do organismo. Essas ondas
re-irradiadas são conhecidas como precursores de Brillouin, nomeados em
homenagem ao físico francês Leon Brillouin, que os descreveu pela primeira vez
em 1914. Pesquisas sugerem que eles podem ter um impacto significativo, e
altamente prejudicial, em células vivas.8
FIGURA 5 - Ilustração da absorção da radiação eletromagnética de
radiofrequência na abelha melífera. Nas frequências utilizadas atualmente,
entre 2 GHz (superior) e 6 GHz (médio), o comprimento de onda é relativamente
grande, em comparação com o inseto. Mas a 24 GHz (abaixo) o comprimento de onda
está mais próximo do tamanho do inseto e a radiação penetra mais fundo.7
As
garantias não tranquilizadoras do governo e da indústria
O órgão do governo encarregado de proteger
a saúde pública, Public Health England, informa que não há provas convincentes
de que a radiação de radiofrequência (usada por televisão, telemóveis, smartphones e 5G) tenha efeitos adversos
à saúde, em adultos ou crianças. . Este conselho é baseado nas recomendações de
um órgão, supostamente independente, chamado AGNIR (Grupo Consultivo sobre
Radiação Não-Ionizante), que produziu um relatório em 2012 sobre a segurança da
radiação de radiofrequência. O relatório afirmava que havia uma falta de
evidência “convincente” e “conclusiva” para quaisquer efeitos adversos à saúde.9
Foi como dar um cheque em branco ao setor de telecomunicações para passar para
as frequências mais altas, sem qualquer atenção às consequências.
Acontece que, longe de ser independente, a
AGNIR tem uma elevada percentagem de membros com conflitos de interesses
flagrantes, e o seu relatório distorceu, ou simplesmente deixou de lado,
evidências que deveriam obrigá-los a chegar à conclusão oposta àquela a que
chegaram. Numa análise forense do relatório, Sarah Starkey, pesquisadora de
saúde ambiental, deixa claro que apenas uma desconsideração deliberada das
evidências científicas disponíveis poderia explicar as suas contradições
internas e aparente incompetência.10 E, no entanto, é a base da
atual política do governo do Reino Unido, permitindo que o governo implemente o
5G sem dar atenção à necessidade de avaliação prévia de saúde e segurança.11
Saúde e segurança simplesmente não figuram no pensamento do Governo, apesar de existir
uma verdadeira montanha de, literalmente, milhares de trabalhos de pesquisa que
demonstram efeitos adversos à saúde, que continua a crescer a uma taxa de
aproximadamente 350 publicações por ano, em média, praticamente um por dia.12
Uma das razões para ignorar esta evidência,
na corrida infernal para criar o ecossistema eletrónico 5G, é a convicção, nos
círculos do governo, de que, a menos que a introduzamos imediatamente, seremos
“deixados para trás” e o nosso crescimento económico e competitividade serão
colocados em risco. Simplesmente, não há tempo para considerar as possíveis
consequências para a saúde. A Comissão Nacional de Infraestrutura (NIC), cujo
relatório de 2016, Connected Future, constitui a base da atual política do
governo, empurrou essa visão em pânico do Reino Unido para trás de outras
nações e instou o governo a garantir que a nova infraestrutura digital esteja
totalmente implantada até 2025.13 O relatório da NIC repetidamente
aponta que as recompensas do “futuro conectado” devem ser medidas em bilhões de
libras em receitas. As quantias incompreensíveis envolvidas são bem
exemplificadas numa estimativa recente de que a indústria de mídia global deve
ganhar, com a tecnologia 5G, 1,3 triliões US $, até 2025, até porque o 5G vai
“libertar o potencial da realidade aumentada (RA) e da realidade virtual (RV)”.
”.14 A ironia de que o futuro“ conectado ”é aquele em que lucros
estonteantes se sustentam em tecnologias que nos desconectam cada vez mais do
mundo real é totalmente esquecida.
As somas envolvidas são suficientes para
explicar por que a indústria de telecomunicações nos últimos vinte e cinco anos
fez o máximo para garantir que a pesquisa sobre os efeitos das tecnologias sem
fio na saúde produza resultados negativos ou inconclusivos. Desde 1993, a
indústria financiou um grande número de estudos, poupando aos governos uma
grande despesa e, ao mesmo tempo, preservando a conveniente ilusão de que ainda
não se sabe se a exposição à radiação de radiofrequência causa danos. No início
deste ano, o jornal “The Guardian” publicou um artigo citando pesquisas que
mostraram que, enquanto 67% dos estudos financiados independentemente
encontraram um efeito biológico de exposição à radiação de radiofrequência,
apenas 28% dos estudos financiados pela indústria o fizeram. Nos estudos
financiados pela indústria são quase duas vezes e meia menos prováveis de
encontrar efeitos na saúde do que nos estudos independentes.15 Os
autores do artigo do “The Guardian” explicam que a indústria de
telecomunicações não precisa de vencer o argumento científico sobre a segurança,
mas simplesmente manter o argumento indefinidamente, produzindo estudos com
resultados que não conseguem verificar, ou ainda melhor, até contradizem, a
pesquisa que encontra efeitos adversos à saúde. Um dos mais notórios é o
gigantesco "Interphone Study", financiado pela indústria, que
conseguiu concluir que segurar um telemóvel na cabeça na verdade protege o
usuário de tumores cerebrais! Este estudo, que é cheio de contradições e sofre
de graves defeitos, é frequentemente citado como o mais fidedigno até hoje,
embora tenha sido de fato totalmente desacreditado.16
No entanto, mantém-se a impressão de que
não há consenso científico e, portanto, não há motivos suficientes para a ação
ser tomada. Desnecessário será dizer que isso serve tanto para o governo quanto
para a indústria.
O
caminho para a imersão total
Além
dos efeitos sobre a saúde, existe um outro nível do que o lançamento de 5G
realmente implica. Para obter uma perspectiva sobre este assunto, devemos nos
lembrar de que, não há muito tempo atrás, o campo eletromagnético da Terra não
era perturbado por frequências eletromagnéticas geradas pelo homem. Antes da
década de 1880, havia apenas duas causas principais de eletromagnetismo, ambas
naturais: o relâmpago das tempestades, que também colocava em movimento as
ressonâncias muito fracas e de baixa frequência, conhecidas como Ressonâncias
de Schumann, e a luz do sol. O raio e a luz solar produzem efeitos em partes
específicas e muito limitadas do espectro eletromagnético. A própria ideia de
que "eletromagnetismo" ou "espectro eletromagnético"
existissem nem sequer foi considerada antes do século XIX. E, do ponto de vista
da era pré-elétrica, a verdade é que eles de facto não existiam como um fator
de experiência. Além do raio e da luz do sol, as energias do espectro
eletromagnético não causavam impacto na vida humana, pois estavam inteiramente
inativas (fig.6).
FIGURA 6 - Radiação eletromagnética natural,
mostrando frequências em ciclos por segundo.
Nesse
mundo pré-elétrico, tanto o relâmpago quanto a luz do sol eram vistos com certo
grau de admiração, como fenomenos naturais expressivos de poderes maiores do
que qualquer coisa que os seres humanos pudessem reunir. Na antiguidade, ambos
estavam associados a deuses - relâmpagos com deuses violentos da tempestade, invariavelmente
com associações ao submundo, como Seth, Baal e Zeus; e a luz do sol com
divindades solares sublimes, como Rá, Shamash e Apolo. Na era judaico-cristã
posterior, a sensação generalizada de que esses fenomenos tinham uma fonte
espiritual persistiu, com relâmpagos considerados expressivos da ira divina e a
luz como a vestimenta do Logos cósmico. Tínhamos aqui uma relação profundamente
sentida com a natureza, que foi largamente corrompida nos séculos que se
seguiram à Revolução Científica. No decorrer dos séculos XVIII e XIX, tanto o
raio quanto a luz foram despojados do seu sentido espiritual, abrindo assim o
caminho para uma explicação inteiramente materialista da luz e uma abordagem
inteiramente tecnológica da eletricidade.
No
início, as frequências utilizadas estavam na extremidade inferior do espectro
eletromagnético. Na década de 1890, as linhas de energia que forneciam a nova
eletricidade para as fábricas e casas eram padronizadas a 50 ou 60 Hz (ou
ciclos por segundo). Quando as transmissões de rádio públicas começaram, na
década de 1920, ocorriam na maioria das vezes em frequências de ondas longas,
abaixo de 500 KHz (milhares de ciclos por segundo). Com o passar do século, as
frequências usadas por novas tecnologias tornaram-se cada vez mais altas. Nas
décadas de 30 e 40, utilizaram-se frequências médias e de ondas curtas (entre
500 KHz e 1700 KHz), enquanto na década de 50 as Frequências Muito Elevadas
(VHF) de 30 - 300 MHz (ou milhões de ciclos por segundo) foram utilizadas na rádio
e transmissão de TV. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi descoberto um método
para gerar frequências ainda mais altas, entre 3 e 30 GHz (milhares de milhões
de ciclos por segundo), que se tornaram a base para o radar. Por cada aumento
na frequência, mais energia era necessária para transmitir as ondas de rádio. O
advento dos telefones moveis, smartphones
e Wi-Fi trouxe para o uso generalizado a parte de frequência ultra-alta (UHF)
do espectro (300 MHz - 3 GHz), para a transmissão do sinal. A transmissão
nessas frequências exige mais de dez vezes a energia necessária para a
transmissão VHF. Hoje, posicionada no limiar da nova era de um “ecossistema
eletrónico” de frequência extremamente alta, com frequências de até 70 GHz
previstas, ainda será necessário mais energia para a transmissão efetiva das
suas ondas milimétricas.17 Então, o ambiente natural será totalmente
saturado com uma névoa invisível de radiação.
Neste
breve esboço histórico, vemos frequências cada vez mais altas formando a base
de cada nova inovação tecnológica. À medida que cada uma das novas tecnologias
foi introduzida, os seres humanos tornaram-se um pouco mais dissociados do
mundo natural. Considere-se como isso aconteceu: a partir de 1890, o
fornecimento de eletricidade para casas, escolas, hospitais e fábricas causou
uma revolução nos padrões de vida, libertando a humanidade da subserviência aos
ciclos da natureza do dia e da noite, verão e inverno, dando acesso a uma nova
fonte de luz, calor e poder. Então, na década de 1920, o rádio permitiu que as
pessoas comunicassem entre si por longas distâncias, e trouxe as vozes de reis
e políticos, cantores e poetas para nossas salas de estar, mesmo que eles não
estivessem presentes fisicamente. Na década de 1950, a televisão intensificou a
experiência de um mundo ausente, porém presente, transmitido pela imagem em
movimento. Lembro-me, quando criança, da qualidade viciante da televisão: uma
pessoa é atraída para fora de si mesma e distancia-se da percepção do ambiente
ao redor, no fascinante mundo das imagens na tela. Com o advento do smartphone,
a tendência para o vício foi fortalecida, em parte porque a tela se tornou uma
interface portátil com a Internet e também pelas políticas deliberadamente exploradoras
do Facebook, Google e outros, para prender as pessoas numa relação viciada com
os seus dispositivos electrónicos.18 O vício em smartphones tanto desloca os utilizadores do seu próprio centro de
quietude quanto, ao mesmo tempo, os desconecta do ambiente natural.
O
5G acentuará ainda mais essa tendência de as pessoas se perderem, e
enfraquecerá ainda mais a sua relação com a natureza, pois promete tornar
acessível a todos a Realidade Virtual imersiva avançada. Embora os capecetes de
realidade virtual estejam disponíveis comercialmente há algum tempo, a RV ainda
está a dar os primeiros passos. O próximo desenvolvimento em tecnologia RV é
suplementar o capacete com um “traje háptico”, que permite ao utilisador
experimentar sensações de toque - pressão, calor, dureza, suavidade, humidade e
secura - na realidade virtual. Tais oportunidades de “imersão total” na
realidade virtual levarão a uma crescente confusão sobre a qual mundo realmente
pertencemos: o gerado eletronicamente ou o mundo natural. O uso da Realidade
Aumentada, possibilitada por capacetes especiais, óculos eletrónicos ou lentes
de contato, que sobrepõem conteúdo virtual à experiência do mundo físico,
aumentará a confusão, à medida que o virtual se integra cada vez mais ao mundo
real.19 As pessoas irão verificar que o mundo virtual tem uma grande
reivindicação sobre sua atenção, as suas emoções e pensamentos, tal como o
mundo natural. A tentação será dar a sua lealdade àquilo que, não só enfraquece
sua relação com a natureza, mas também, através de seu ataque à imaginação, tem
um efeito corrosivo na vida interior da alma. A confusão será ainda exacerbada
por um aumento no uso de holografia 3D, que dará às entidades virtuais a capacidade
de encarnar eletronicamente no ambiente físico. Isto é o que a saturação do
mundo com ondas milimétricas de frequência extremamente alta permitirá. As
próprias ondas são apenas parte da questão: são as tecnologias que circulam nas
costas das ondas e o seu impacto na nossa vida interior que também nos deve
preocupar.
A formação do Cérebro Eletrónico Global
Mas
se o 5G promete alterar radicalmente o mundo experiencial que habitamos, há
algo mais que devemos entender para percebermos o que realmente está a ser
preparado. Ao mesmo tempo que as tecnologias, cada vez mais sofisticadas,
desconectam cada vez mais os seres humanos do mundo natural, uma rede de
“inteligência” eletrónica, global em extensão, emerge gradualmente. No começo,
estava sob supervisão humana, mas tornou-se cada vez mais autónoma. Considere a
diferença entre a Radiodifusão e a Internet: a primeira está sob rígido
controle humano e serve um propósito muito específico, enquanto a segunda estabeleceu-se
como uma infra-estrutura eletrónica permanente e constantemente disponível, com
âmbito e alcance indefinidos. O que tem acontecido nas últimas décadas é a
crescente coordenação de máquinas dotadas de inteligência, para que elas operem
sem a necessidade de supervisão humana. Os esforços agora em curso, para criar
um ecossistema eletrónico 5G, são a pré-condição necessária para desenvolver e
aperfeiçoar uma rede global de Inteligência Artificial, que se alimenta da
transferência muito rápida de grandes quantidades de informação. Esse “cérebro”
eletrónico global, ingenuamente chamado de “Internet das Coisas”, já está a
afectar as nossas vidas.
Através
da Internet das Coisas, mais e mais objectos estarão ligados à Internet e
tornados “inteligentes”, com a capacidade de funcionar de forma autónoma. Em
auto-estradas inteligentes, o seu carro conduzir-se-á sozinho enquanto você,
usando o seu capacete RV e colete háptico, joga jogos de computador
interactivos no banco de trás; e na sua casa inteligente, o seu frigorífico irá
pedir, de forma autónoma, mais ovos, leite e queijo, através duma conexão sem
fio com um fornecedor. Mas a realidade é que a Internet das Coisas é ela mesma
a precursora daquilo que tem sido chamado “Internet do Pensamento”, onde os
seres humanos terão que conviver com a
vasta inteligência eletrónica global. Ela estará ativa em todos os
lugares do nosso ambiente e seremos obrigados a interagir com ela para realizar
a mais simples das tarefas20. Na Internet do Pensamento não é
difícil ver os contornos dum estado totalitário eletronicamente supercarregado,
com um controle sem precedentes sobre os pormenores da vida dos indivíduos. A
possibilidade de isso acontecer será aumentada pelos milhares de novas estações
base de telemóveis e satélites que irradiam cada centímetro do planeta com
ondas milimétricas. Pois isso é o que significa 5G: significa colocar em
prática, não apenas um sistema de telecomunicações aperfeiçoado, mas sim um
novo “sistema de sistemas” - a infra-estrutura do totalitarismo eletrónico.21
Uma
cortina projectada contra a luz
Como o nosso mundo é cada vez mais
sufocado por um nevoeiro de ondas de rádio, microondas e ondas milimétricas,
pode parecer que os deuses do submundo colocaram a humanidade num aperto cada
vez mais forte, atraíndo-nos para as luzes falsas - as luzes ilusórias dos
seres do inferno e os fantasmas famintos que o Livro Tibetano dos Mortos há
muito tempo advertiu contra. As energias eletromagnéticas que invocamos e que nos
prometeram dar novos poderes, agora parecem estar a dominar-nos, levando-nos a
um reino infernal de entretenimento e distração, de ilusão e desconexão da
realidade que realmente importa - a realidade da natureza e da ordem espiritual
que cria a natureza, a realidade das criaturas com as quais compartilhamos o nosso
mundo, vivendo no solo e no céu e caminhando pela Terra ao nosso lado.
Devemos perguntar: a Terra precisa de um
ecossistema eletrónico? Será que vamos beneficiar de alguma forma de sermos
irradiados com ondas milimétricas? Existe realmente alguma necessidade de 5G?
Podemos até mesmo conceber remotamente que o 5G é a resposta para qualquer um
dos prementes problemas ecológicos, sociais e espirituais que enfrentamos hoje?
Estamos num limiar terrível e, no entanto, render-se ao desespero não pode ser
a resposta correta. O que podemos fazer?
Primeiro que tudo, podemos protestar!
Existem campanhas contra o 5G que podemos participar, há petições para assinar,
cartas para escrever e ações legais para apoiar. O melhor lugar para começar é
o “International Appeal to
Stop 5G on Earth and in Space” (Apelo Internacional para parar 5G na Terra e no Espaço), que agora
reuniu cerca de 30 000 assinaturas, incluindo as de muitos profissionais de
saúde, ambientalistas e outros cientistas.22 Mas além do protesto,
há algo mais que precisa de ser feito, e isso é trazer a compreensão
espiritualmente informada para o significado mais profundo do cérebro eletrónico
global, cujo surgimento será acelerado. Para este fim, precisamos de desenvolver
uma percepção clara da qualidade moral da eletricidade, para melhor reconhecer
o tipo de entidade espiritual ou entidades que ela serve. Isso nos dará a
capacidade de quebrar o encanto que a eletricidade e as tecnologias eletrónicas
lançaram sobre nós, e nos permitirá formar um relacionamento mais apropriado
com eles. Um dos insights mais úteis
de Rudolf Steiner sobre eletricidade foi sua observação de que se trata de luz
num estado degradado e caído - luz que caiu sob a natureza no reino subnatural
- e é por isso que devemos nos proteger ativamente contra uma dependência cada
vez maior dela, pois ameaça arrastar-nos para baixo.23
Isso aponta para uma terceira coisa que
podemos fazer, que é realmente a base de todo o resto. É reconstruir nossa
relação com a luz, que em sua benevolência e pureza altruísta nos saúda todas
as manhãs e que, ao contrário das luzes eletrónicas falsas e ilusórias que nos
levariam ao Mundo Inferior, nos acena numa direção bem diferente, em direção à
nossa humanidade essencial. Através dum profundo relacionamento meditativo com
a luz, praticado através das horas do dia e das estações do ano, podemos nutrir
um relacionamento com a luz interior que é a fonte de tudo que é criativo e bom
no mundo. Essa luz interior, que a tradição cristã conhece como o Logos cósmico.
À medida que a cortina do nevoeiro electrónico é traçada pelo nosso mundo, é
nos apresentada uma tarefa sagrada que é, aconteça o que acontecer, atendermos
a tudo o que a luz tem para dar, pois aí está o divino Poder de Salvação.
Jeremy
Naydler é um filósofo, historiador cultural e jardineiro que vive e trabalha em
Oxford, Inglaterra. Ele também é o autor de “In the Shadow of the Machine: The Prehistory of the Computer and the Evolution of Consciousness”
(Forest Row: Temple Lodge, 2018).
ASSINAR A PETIÇÃO INTERNACIONAL: https://www.5gspaceappeal.org/sign-individual
Notas:
1.
One of the
best sources for
this information is
the website of
the Global Union
Against Radiation Deployment
from Space (GUARDS)
at www. stopglobalwifi.org, and
the related Cellular
Phone Task Force website
at www. cellphonetaskforce.org. Both
organisations are informed
and inspired by the
tireless research and
campaigning of Arthur
Firstenberg, to whom this article is greatly indebted.
2.
Source: ISEE/ISEA Conference: Environmental Epidemiology and Exposure. Paris,
5/9/2006.
3.
The rule is: the higher the frequency at which the wave oscillates, the
shorter the wavelength will be.
4. Source: Qualcomm. July, 2018.
5.
Arno Thielens et
al., “Exposure of
Insects to Radio-Frequency Electromagnetic Fields from 2
to 120 GHz”, Nature, 8: 3924 (2018): “The insects show a maximum in absorbed
radio frequency power at wavelengths that are comparable to their body size...
The studied insects that are smaller
than 1cm show
a peak in
absorption at frequencies (above
6 GHz), which are currently not often used for telecommunication, but are
planned to be used in the next generation of wireless communication systems.”
6.
Cindy Russell, “A
5G Wireless Future”,
The
Bulletin(January/February,
2017, pp.20-23 reviews
the research, and
lists a large
number of adverse
health effects of
millimetre wave electromagnetic radiation
including arrythmia, antibiotic
resistance, cataracts, compromised immune system, etc.
7.
Source: Arno Thielens
et al., “Exposure
of Insects to
Radio-Frequency Electromagnetic Fields from 2 to 120 GHz”, Nature, 8:
3924 (2018), fig.4.
8.
Kurt Oughstun, interview
on “Brillouin Precursors”,
Microwave News, 22,
2 (2002), p.10.
According to Oughstun,
a professor of
electrical engineering and
mathematics at the
University of Vermont,
“A single Brillouin
precursor can open
small channels through
the cell membrane
because, as it
passes through the membrane, it can induce a significant
change in electrostatic potential across that membrane.” See also Arthur Firstenberg
“5G – From
Blankets to Bullets”
January 17th, 2018), at www. cellphonetaskforce.org.
9.
Report of the
Advisory Group on
Non-Ionising Radiation,
Health Effects from
Radiofrequency Electromagnetic
Fields (2012).
10.
Sarah J. Starkey,
“Inaccurate official assessment
of radiofrequency safety by the Advisory Group on Non-ionising Radiation”,
Review of Environmental
Health, 31:4 (2016), pp.493-503.
11.
The Department for
Culture, Media and
Sport and H. M.
Treasury, Next Generation Mobile Technologies: A 5G Strategy
for the UK,
March, 2017, which
sets out the
government’s strategy for
the roll out
of 5G, does
not mention health and safety precautions.
12.
One of the best sources for this mountain of research is The
BioInitiative Report (2012), which helpfully gathers it into
manageable sections, and
is regularly updated.
It can be
accessed online at
http://www.bioinitiative .org.
According to the Report, between 2007 and 2012, approximately 1800 new studies
demonstrated adverse health effects, i.e. on average 350 per year.
13.
National Infrastructure Report,
Connected Future (December,
2016), p.11. The
authors argue that
only by so
doing could the
UK “take full
advantage of technologies
such as artificial
intelligence and augmented
reality.” The report is available at www. nic.org.
14. Ovum,
“5G Economics of
Entertainment Report” (October,
2018). The report
was commissioned by
Intel, and a summary is available at www. newsroom.intel.com.
15. Mark Hertsgaard and Mark Dowie, “The
inconvenient truth about cancer and mobile phones”, The Guardian, 14th July,
2018. The blatant funding bias was first exposed in 2006
by Louis Slesin,
“’Radiation Research’ and
the Cult of
Negative Results”, Microwave
News, 26.4 (July, 2006),
pp.1-5. A good
summary of the
problem is given
in “Bias and
Confounding in EMF
Science”, on the Powerwatch
website: www. powerwatch.org.uk/science/bias.asp.
16.
The Interphone Study
is devastatingly critiqued
in L. Lloyd Morgan et al., Cellphones and Brain
Tumors: 15 Reasons for Concern (2009), available online at www.
electromagnetichealth.org.
17.
Ofcom, Enabling 5G in the UK
(March, 2018), pp.3-4.
18. Jacqui Goddard, “Facebook
exploits human weakness, admits
former boss Sean
Parker” The Times,
10th November, 2017.
19. Ovum, “5G Economics of Entertainment Report”.
See note 14 above.
20. Maynard
Williams, “Welcome to
the Internet of
Thinking”, The Telegraph, 8th May, 2018.
21. Nokia White Paper, 5G –
a System of
Systems (www. Nokia.com).
22.
The appeal can
be accessed at
www. 5gspaceappeal.org.
23.
Rudolf Steiner, Anthroposophical Leading
Thoughts (Forest Row: Rudolf
Steiner Press, 2007), p.218.