06/03/19


5G: O Assalto Final
by Jeremy Naydler
Artigo publicado na revista “New View – Winter 2018-19”



5G do espaço
Em novembro deste ano (2018), a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC) autorizou a empresa de foguetes SpaceX, propriedade do empreendedor Elon Musk, a lançar uma frota de 7 518 satélites para completar o ambicioso esquema da SpaceX de fornecer serviços globais de banda larga, por satélite, a cada canto da terra. Os satélites operarão a uma altitude de aproximadamente 210 milhas e irradiarão a Terra com frequências extremamente altas, entre 37,5 GHz e 42 GHz. Esta frota será um complemento à frota menor SpaceX, de 4 425 satélites, já autorizada no início do ano pela FCC, que irá orbitar a Terra a uma altitude de aproximadamente 750 milhas e que nos deve irradiar com frequências entre 12 GHz e 30 GHz. O total geral dos satélites SpaceX é, portanto, projetado para atingir quase as 12 000 unidades.
Atualmente, existem aproximadamente dois mil satélites em pleno funcionamento, orbitando a Terra. Alguns transmitem GPS comercial (ou “SatNav”), alguns fornecem TV, alguns fornecem serviços de telefone móvel, outros refletem o radar de um lado para o outro para produzir imagens para meteorologistas e vigilância militar. A Terra, portanto, já está irradiada de forma abrangente do espaço exterior. Mas as novas frotas da SpaceX irão constituir um aumento maciço no número de satélites nos céus acima de nós, e um aumento proporcionalmente massivo na radiação que chega à Terra a partir deles. A frota de satélites SpaceX é, no entanto, apenas uma das várias que serão lançadas nos próximos anos, todas com o mesmo objetivo de fornecer serviços globais de banda larga. Outras empresas, incluindo a Boeing, One Web e Spire Global, lançam suas próprias frotas menores, elevando o número total de novos satélites de banda larga para cerca de 20 000 - cada um deles dedicado a irradiar a Terra em frequências similares (fig. 1). 1



 FIGURA 1 - Satélites irradiam 5G. (ZdNet.com.)

 Porquê esta agitação súbita de atividade? As novas frotas de satélites estão a contribuir para um esforço global conjunto para “atualizar” o ambiente eletromagnético da Terra. A atualização é geralmente chamada de rede sem fios 5G ou de quinta geração. Tornou-se habitual nos círculos de tecnologia falar sobre a introdução do 5G como envolvendo a criação de um novo “ecossistema eletrónico” global. Isto equivale a geoengenharia numa escala nunca antes tentada. Enquanto isso está a ser vendido ao público como um aperfeiçoamento da qualidade de streaming de vídeo para mídia e entretenimento, o que está realmente a impulsionar é a criação das condições em que a inteligência eletrónica ou “artificial” será capaz de assumir uma presença cada vez maior nas nossas vidas.
Num artigo anterior para New View, (“Radiation, Robot Bees and 5G”, Nova Visão, 85, Outono de 2017), descrevi como a introdução do 5G exigirá centenas de milhares de novos mini-postes de telefone móvel (também conhecidos como “Estações base”) em centros urbanos em todo o Reino Unido e literalmente milhões de novas estações base em cidades por todo o mundo, todas emitindo radiação em frequências e em níveis de potência muito mais altos do que aqueles aos quais estamos sujeitos atualmente. Estas novas estações base são muito menores do que as que estamos habituados a ver ao lado das nossas estradas e no topo de edifícios. Elas estarão discretamente colocadas ao lado de lojas e escritórios ou presas a postes de luz. Os 20 000 satélites são um complemento necessário a este equipamento em terra, pois eles garantirão que áreas rurais, lagos, montanhas, florestas, oceanos e regiões selvagens, onde não há edifícios nem postes de iluminação, serão incorporados à nova infra-estrutura eletrónica. Nem uma polegada do globo estará livre de radiação.
Dada a escala do projeto, é surpreendente como poucas pessoas estão conscientes da dimensão do que está agora a começar a se desdobrar ao nosso redor. Muito poucas pessoas ouviram falar dos 20 mil novos satélites que devem transformar o planeta num chamado “planeta inteligente”, irradiando-nos dia e noite. Nos meios de comunicação social não ouvimos vozes questionando a sabedoria, sem falar da ética, da geoengenharia de um novo ambiente eletromagnético global. Em vez disso, há uma aceitação alegre de que a tecnologia deve continuar a progredir, e que a presença nas nossas vidas de máquinas e aparelhos cada vez mais “inteligentes”, que a cada ano se tornam mais inteligentes e mais capazes, é parte inevitável desse progresso. E quem não quer progresso? Quase todo mundo adora telefones, portáteis e outros equipamentos virtuais elegantes e sedutores, e considera-os uma parte indispensável das suas vidas. Mas a pergunta que devemos fazer é se também queremos uma exposição cada vez mais intensa do ambiente natural e de todas as criaturas vivas, incluindo nós mesmos, a uma radiação cada vez mais eletromagnética. É provável que isso não implique consequências adversas para a saúde, como afirmam tanto o governo quanto a indústria? Se as ondas eletromagnéticas que conectam os nossos smartphones à Internet viajam através de tijolos, pedras e cimento, então o que acontece quando essas mesmas ondas encontram os nossos corpos? Certamente que elas não se limitam apenas a abandonar os nossos corpos! Eles viajam dentro do corpo humano. O grau em que são absorvidas pode ser medido com precisão na chamada Taxa de Absorção Específica, expressa em Watts por quilograma de tecido biológico. Quando enchemos as nossas casas com Wi-Fi, estamos a irradiar os nossos corpos continuamente. Quando colocamos um smartphone no ouvido, as ondas eletromagnéticas irradiam os nossos cérebros (fig.2). Nós realmente acreditamos que isso poderá ser completamente inofensivo?


FIGURA 2 - As cores indicam a Taxa de Absorção Específica (SAR) da radiação do telemóvel. A SAR é a quantidade de energia absorvida pelo tecido, medida em watts por quilograma, mostrada aqui a vermelho para o valor mais alto e a azul para o mais baixo.2
 
Ondas e Frequências
Actualmente, os telemóveis, smartphones, tablets, Wi-Fi e outros, operam a menos de 3 GHz, na chamada região “microondas” do espectro electromagnético. Se pudessemos ver e medir os seus comprimentos de onda, descobriríamos  que têm muitos centímetros de comprimento. Um smartphone operando a 800 MHz, por exemplo, envia e recebe sinais com comprimentos de onda de 37,5 centímetros. Operando a 1,9 GHz, os comprimentos de onda são de 16 centímetros. O Wi-Fi usa a banda de frequência de 2,4 GHz, com comprimentos de onda de 12 centímetros. A introdução de 5G implicará o uso de frequências consideravelmente mais altas que estas, com comprimentos de onda correspondentemente menores. Acima de 30 GHz, os comprimentos de onda são apenas milímetros, em vez de centímetros. A faixa de onda milimétrica (de 30 GHz a 300 GHz) é chamada de Frequência Extremamente Alta, e seus comprimentos de onda têm entre 1 e 10 milímetros.3 Até ao presente, a radiação eletromagnética de Frequência Extremamente Alta não tem sido amplamente propagada, e sua introdução marca uma mudança significativa no tipo de energia eletromagnética que se tornará presente no ambiente natural (fig.3).
FIGURA 3 - Frequências e comprimentos de onda de smartphone, Wi-Fi e 5G.

A razão pela qual as ondas milimétricas devem ser usadas para o 5G é que bandas de espectro muito maiores estão disponíveis nas Frequências Extremamente Elevadas, em relação às frequências mais baixas. Isso significa que pode haver “largura de banda” muito mais ampla. Largura de banda mais ampla significa que grandes quantidades de dados podem ser transferidas e a velocidade de transferência dos dados será significativamente mais rápida. Um dos efeitos disso é que ele reduz o que é chamado de “latência” ou atraso de tempo no sistema, melhorando a qualidade do streaming de vídeo. Mas, ao fazê-lo, também permite uma maior uniformidade entre os dados acessíveis a partir de fontes virtuais e as nossas percepções de objetos no mundo real, como é necessário, por exemplo, em aplicações de Realidade Aumentada. Maior uniformidade significa que habitamos mais facilmente os mundos natural e eletrónico, como se fossem uma única realidade.
Um dos problemas técnicos do uso de frequências na região milimétrica do espectro é que, como as ondas que transportam os dados são tão pequenas, com apenas milímetros de comprimento, elas têm mais dificuldade em passar por barreiras físicas, como paredes e árvores, do que as ondas mais longas, de frequências mais baixas. É por isso que é necessário ter muito mais novas estações base de telefone. Elas precisarão de estar espaçadas 100 metros nas cidades, porque além dessa distância, os seus sinais enfraquecem e, portanto, têm dificuldade em penetrar nos edifícios e de se conectarem com os dispositivos internos. Além de estarem mais próximas, as estações base 5G operarão com uma potência muito maior do que as atuais, a fim de garantir que os sinais sejam suficientemente fortes. Como os comprimentos de onda são muito menores, as antenas que os transmitem e recebem também são muito menores do que as atuais. Um único transmissor/receptor 5G terá um grande número de pequenas antenas, agrupadas numa unidade. Um conjunto de pouco mais de mil antenas assim mede apenas quatro polegadas quadradas, então cabe facilmente numa pequena estação base, num poste de luz, enquanto o smartphone no nosso bolso provavelmente terá dezesseis (fig.4).


FIGURA 4 - Módulo de arranjo de antenas de onda milimétrica da Qualcomm para um smartphone 5G. Tem quatro antenas que podem apontar com precisão para a estação base 5G mais próxima. Os telemóveis terão quatro desses módulos, ou seja, dezesseis antenas.4

Tanto os satélites 5G quanto os postes terrestres 5G usarão um sistema chamado “phased array”. No arranjo faseado, os grupos de antenas são coordenados para irradiar vibrações numa direção e numa sequência de tempo especificados. Isso permite que um feixe concentrado de ondas de rádio seja exatamente destinado a alvos designados, para permitir que os sinais sejam enviados ou recebidos. Como os feixes estão concentrados dessa maneira, isso aumenta a sua potência, o que significa que eles são mais capazes de penetrar nos edifícios. Mas isso também significa que qualquer criatura viva que fique no caminho dum feixe concentrado será submetida a uma poderosa dose de eletricidade radiante de frequência extremamente alta. Um estudo publicado no início deste ano demonstrou que certos insetos, devido ao seu pequeno tamanho corporal, são particularmente vulneráveis às ondas milimétricas das frequências mais altas a serem utilizadas pela 5G (fig. 5) .5 Outros estudos mostraram que bactérias e plantas também são vulneráveis e, como se poderia esperar, também o são a pele e os olhos dos animais, incluindo, é claro, os seres humanos.6
Além da sua capacidade de concentrar energia em feixes focalizados, a tecnologia “phased array” tem um outro fator importante. Em ambos os lados do feixe principal, os intervalos de tempo entre os impulsos são diferentes dos intervalos de tempo entre os do feixe principal, mas podem sobrepor-se uns aos outros de forma a produzir mudanças extremamente rápidas no campo electromagnético. Isto pode ter um efeito particularmente prejudicial nos organismos vivos, porque, em vez da radiação decair, quando é absorvida no tecido vivo, pode ser re-irradiada dentro do corpo. As cargas em movimento fluindo para o corpo, efetivamente tornam-se antenas que re-irradiam o campo eletromagnético e o enviam para dentro do organismo. Essas ondas re-irradiadas são conhecidas como precursores de Brillouin, nomeados em homenagem ao físico francês Leon Brillouin, que os descreveu pela primeira vez em 1914. Pesquisas sugerem que eles podem ter um impacto significativo, e altamente prejudicial, em células vivas.8


FIGURA 5 - Ilustração da absorção da radiação eletromagnética de radiofrequência na abelha melífera. Nas frequências utilizadas atualmente, entre 2 GHz (superior) e 6 GHz (médio), o comprimento de onda é relativamente grande, em comparação com o inseto. Mas a 24 GHz (abaixo) o comprimento de onda está mais próximo do tamanho do inseto e a radiação penetra mais fundo.7

As garantias não tranquilizadoras do governo e da indústria
O órgão do governo encarregado de proteger a saúde pública, Public Health England, informa que não há provas convincentes de que a radiação de radiofrequência (usada por televisão, telemóveis, smartphones e 5G) tenha efeitos adversos à saúde, em adultos ou crianças. . Este conselho é baseado nas recomendações de um órgão, supostamente independente, chamado AGNIR (Grupo Consultivo sobre Radiação Não-Ionizante), que produziu um relatório em 2012 sobre a segurança da radiação de radiofrequência. O relatório afirmava que havia uma falta de evidência “convincente” e “conclusiva” para quaisquer efeitos adversos à saúde.9 Foi como dar um cheque em branco ao setor de telecomunicações para passar para as frequências mais altas, sem qualquer atenção às consequências.
Acontece que, longe de ser independente, a AGNIR tem uma elevada percentagem de membros com conflitos de interesses flagrantes, e o seu relatório distorceu, ou simplesmente deixou de lado, evidências que deveriam obrigá-los a chegar à conclusão oposta àquela a que chegaram. Numa análise forense do relatório, Sarah Starkey, pesquisadora de saúde ambiental, deixa claro que apenas uma desconsideração deliberada das evidências científicas disponíveis poderia explicar as suas contradições internas e aparente incompetência.10 E, no entanto, é a base da atual política do governo do Reino Unido, permitindo que o governo implemente o 5G sem dar atenção à necessidade de avaliação prévia de saúde e segurança.11 Saúde e segurança simplesmente não figuram no pensamento do Governo, apesar de existir uma verdadeira montanha de, literalmente, milhares de trabalhos de pesquisa que demonstram efeitos adversos à saúde, que continua a crescer a uma taxa de aproximadamente 350 publicações por ano, em média, praticamente um por dia.12
Uma das razões para ignorar esta evidência, na corrida infernal para criar o ecossistema eletrónico 5G, é a convicção, nos círculos do governo, de que, a menos que a introduzamos imediatamente, seremos “deixados para trás” e o nosso crescimento económico e competitividade serão colocados em risco. Simplesmente, não há tempo para considerar as possíveis consequências para a saúde. A Comissão Nacional de Infraestrutura (NIC), cujo relatório de 2016, Connected Future, constitui a base da atual política do governo, empurrou essa visão em pânico do Reino Unido para trás de outras nações e instou o governo a garantir que a nova infraestrutura digital esteja totalmente implantada até 2025.13 O relatório da NIC repetidamente aponta que as recompensas do “futuro conectado” devem ser medidas em bilhões de libras em receitas. As quantias incompreensíveis envolvidas são bem exemplificadas numa estimativa recente de que a indústria de mídia global deve ganhar, com a tecnologia 5G, 1,3 triliões US $, até 2025, até porque o 5G vai “libertar o potencial da realidade aumentada (RA) e da realidade virtual (RV)”. ”.14 A ironia de que o futuro“ conectado ”é aquele em que lucros estonteantes se sustentam em tecnologias que nos desconectam cada vez mais do mundo real é totalmente esquecida.
As somas envolvidas são suficientes para explicar por que a indústria de telecomunicações nos últimos vinte e cinco anos fez o máximo para garantir que a pesquisa sobre os efeitos das tecnologias sem fio na saúde produza resultados negativos ou inconclusivos. Desde 1993, a indústria financiou um grande número de estudos, poupando aos governos uma grande despesa e, ao mesmo tempo, preservando a conveniente ilusão de que ainda não se sabe se a exposição à radiação de radiofrequência causa danos. No início deste ano, o jornal “The Guardian” publicou um artigo citando pesquisas que mostraram que, enquanto 67% dos estudos financiados independentemente encontraram um efeito biológico de exposição à radiação de radiofrequência, apenas 28% dos estudos financiados pela indústria o fizeram. Nos estudos financiados pela indústria são quase duas vezes e meia menos prováveis de encontrar efeitos na saúde do que nos estudos independentes.15 Os autores do artigo do “The Guardian” explicam que a indústria de telecomunicações não precisa de vencer o argumento científico sobre a segurança, mas simplesmente manter o argumento indefinidamente, produzindo estudos com resultados que não conseguem verificar, ou ainda melhor, até contradizem, a pesquisa que encontra efeitos adversos à saúde. Um dos mais notórios é o gigantesco "Interphone Study", financiado pela indústria, que conseguiu concluir que segurar um telemóvel na cabeça na verdade protege o usuário de tumores cerebrais! Este estudo, que é cheio de contradições e sofre de graves defeitos, é frequentemente citado como o mais fidedigno até hoje, embora tenha sido de fato totalmente desacreditado.16
No entanto, mantém-se a impressão de que não há consenso científico e, portanto, não há motivos suficientes para a ação ser tomada. Desnecessário será dizer que isso serve tanto para o governo quanto para a indústria.

O caminho para a imersão total
Além dos efeitos sobre a saúde, existe um outro nível do que o lançamento de 5G realmente implica. Para obter uma perspectiva sobre este assunto, devemos nos lembrar de que, não há muito tempo atrás, o campo eletromagnético da Terra não era perturbado por frequências eletromagnéticas geradas pelo homem. Antes da década de 1880, havia apenas duas causas principais de eletromagnetismo, ambas naturais: o relâmpago das tempestades, que também colocava em movimento as ressonâncias muito fracas e de baixa frequência, conhecidas como Ressonâncias de Schumann, e a luz do sol. O raio e a luz solar produzem efeitos em partes específicas e muito limitadas do espectro eletromagnético. A própria ideia de que "eletromagnetismo" ou "espectro eletromagnético" existissem nem sequer foi considerada antes do século XIX. E, do ponto de vista da era pré-elétrica, a verdade é que eles de facto não existiam como um fator de experiência. Além do raio e da luz do sol, as energias do espectro eletromagnético não causavam impacto na vida humana, pois estavam inteiramente inativas (fig.6).
FIGURA 6 - Radiação eletromagnética natural, mostrando frequências em ciclos por segundo.

Nesse mundo pré-elétrico, tanto o relâmpago quanto a luz do sol eram vistos com certo grau de admiração, como fenomenos naturais expressivos de poderes maiores do que qualquer coisa que os seres humanos pudessem reunir. Na antiguidade, ambos estavam associados a deuses - relâmpagos com deuses violentos da tempestade, invariavelmente com associações ao submundo, como Seth, Baal e Zeus; e a luz do sol com divindades solares sublimes, como Rá, Shamash e Apolo. Na era judaico-cristã posterior, a sensação generalizada de que esses fenomenos tinham uma fonte espiritual persistiu, com relâmpagos considerados expressivos da ira divina e a luz como a vestimenta do Logos cósmico. Tínhamos aqui uma relação profundamente sentida com a natureza, que foi largamente corrompida nos séculos que se seguiram à Revolução Científica. No decorrer dos séculos XVIII e XIX, tanto o raio quanto a luz foram despojados do seu sentido espiritual, abrindo assim o caminho para uma explicação inteiramente materialista da luz e uma abordagem inteiramente tecnológica da eletricidade.
No início, as frequências utilizadas estavam na extremidade inferior do espectro eletromagnético. Na década de 1890, as linhas de energia que forneciam a nova eletricidade para as fábricas e casas eram padronizadas a 50 ou 60 Hz (ou ciclos por segundo). Quando as transmissões de rádio públicas começaram, na década de 1920, ocorriam na maioria das vezes em frequências de ondas longas, abaixo de 500 KHz (milhares de ciclos por segundo). Com o passar do século, as frequências usadas por novas tecnologias tornaram-se cada vez mais altas. Nas décadas de 30 e 40, utilizaram-se frequências médias e de ondas curtas (entre 500 KHz e 1700 KHz), enquanto na década de 50 as Frequências Muito Elevadas (VHF) de 30 - 300 MHz (ou milhões de ciclos por segundo) foram utilizadas na rádio e transmissão de TV. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi descoberto um método para gerar frequências ainda mais altas, entre 3 e 30 GHz (milhares de milhões de ciclos por segundo), que se tornaram a base para o radar. Por cada aumento na frequência, mais energia era necessária para transmitir as ondas de rádio. O advento dos telefones moveis, smartphones e Wi-Fi trouxe para o uso generalizado a parte de frequência ultra-alta (UHF) do espectro (300 MHz - 3 GHz), para a transmissão do sinal. A transmissão nessas frequências exige mais de dez vezes a energia necessária para a transmissão VHF. Hoje, posicionada no limiar da nova era de um “ecossistema eletrónico” de frequência extremamente alta, com frequências de até 70 GHz previstas, ainda será necessário mais energia para a transmissão efetiva das suas ondas milimétricas.17 Então, o ambiente natural será totalmente saturado com uma névoa invisível de radiação.
Neste breve esboço histórico, vemos frequências cada vez mais altas formando a base de cada nova inovação tecnológica. À medida que cada uma das novas tecnologias foi introduzida, os seres humanos tornaram-se um pouco mais dissociados do mundo natural. Considere-se como isso aconteceu: a partir de 1890, o fornecimento de eletricidade para casas, escolas, hospitais e fábricas causou uma revolução nos padrões de vida, libertando a humanidade da subserviência aos ciclos da natureza do dia e da noite, verão e inverno, dando acesso a uma nova fonte de luz, calor e poder. Então, na década de 1920, o rádio permitiu que as pessoas comunicassem entre si por longas distâncias, e trouxe as vozes de reis e políticos, cantores e poetas para nossas salas de estar, mesmo que eles não estivessem presentes fisicamente. Na década de 1950, a televisão intensificou a experiência de um mundo ausente, porém presente, transmitido pela imagem em movimento. Lembro-me, quando criança, da qualidade viciante da televisão: uma pessoa é atraída para fora de si mesma e distancia-se da percepção do ambiente ao redor, no fascinante mundo das imagens na tela. Com o advento do smartphone, a tendência para o vício foi fortalecida, em parte porque a tela se tornou uma interface portátil com a Internet e também pelas políticas deliberadamente exploradoras do Facebook, Google e outros, para prender as pessoas numa relação viciada com os seus dispositivos electrónicos.18 O vício em smartphones tanto desloca os utilizadores do seu próprio centro de quietude quanto, ao mesmo tempo, os desconecta do ambiente natural.
O 5G acentuará ainda mais essa tendência de as pessoas se perderem, e enfraquecerá ainda mais a sua relação com a natureza, pois promete tornar acessível a todos a Realidade Virtual imersiva avançada. Embora os capecetes de realidade virtual estejam disponíveis comercialmente há algum tempo, a RV ainda está a dar os primeiros passos. O próximo desenvolvimento em tecnologia RV é suplementar o capacete com um “traje háptico”, que permite ao utilisador experimentar sensações de toque - pressão, calor, dureza, suavidade, humidade e secura - na realidade virtual. Tais oportunidades de “imersão total” na realidade virtual levarão a uma crescente confusão sobre a qual mundo realmente pertencemos: o gerado eletronicamente ou o mundo natural. O uso da Realidade Aumentada, possibilitada por capacetes especiais, óculos eletrónicos ou lentes de contato, que sobrepõem conteúdo virtual à experiência do mundo físico, aumentará a confusão, à medida que o virtual se integra cada vez mais ao mundo real.19 As pessoas irão verificar que o mundo virtual tem uma grande reivindicação sobre sua atenção, as suas emoções e pensamentos, tal como o mundo natural. A tentação será dar a sua lealdade àquilo que, não só enfraquece sua relação com a natureza, mas também, através de seu ataque à imaginação, tem um efeito corrosivo na vida interior da alma. A confusão será ainda exacerbada por um aumento no uso de holografia 3D, que dará às entidades virtuais a capacidade de encarnar eletronicamente no ambiente físico. Isto é o que a saturação do mundo com ondas milimétricas de frequência extremamente alta permitirá. As próprias ondas são apenas parte da questão: são as tecnologias que circulam nas costas das ondas e o seu impacto na nossa vida interior que também nos deve preocupar.

A formação do Cérebro Eletrónico Global
Mas se o 5G promete alterar radicalmente o mundo experiencial que habitamos, há algo mais que devemos entender para percebermos o que realmente está a ser preparado. Ao mesmo tempo que as tecnologias, cada vez mais sofisticadas, desconectam cada vez mais os seres humanos do mundo natural, uma rede de “inteligência” eletrónica, global em extensão, emerge gradualmente. No começo, estava sob supervisão humana, mas tornou-se cada vez mais autónoma. Considere a diferença entre a Radiodifusão e a Internet: a primeira está sob rígido controle humano e serve um propósito muito específico, enquanto a segunda estabeleceu-se como uma infra-estrutura eletrónica permanente e constantemente disponível, com âmbito e alcance indefinidos. O que tem acontecido nas últimas décadas é a crescente coordenação de máquinas dotadas de inteligência, para que elas operem sem a necessidade de supervisão humana. Os esforços agora em curso, para criar um ecossistema eletrónico 5G, são a pré-condição necessária para desenvolver e aperfeiçoar uma rede global de Inteligência Artificial, que se alimenta da transferência muito rápida de grandes quantidades de informação. Esse “cérebro” eletrónico global, ingenuamente chamado de “Internet das Coisas”, já está a afectar as nossas vidas.
Através da Internet das Coisas, mais e mais objectos estarão ligados à Internet e tornados “inteligentes”, com a capacidade de funcionar de forma autónoma. Em auto-estradas inteligentes, o seu carro conduzir-se-á sozinho enquanto você, usando o seu capacete RV e colete háptico, joga jogos de computador interactivos no banco de trás; e na sua casa inteligente, o seu frigorífico irá pedir, de forma autónoma, mais ovos, leite e queijo, através duma conexão sem fio com um fornecedor. Mas a realidade é que a Internet das Coisas é ela mesma a precursora daquilo que tem sido chamado “Internet do Pensamento”, onde os seres humanos terão que conviver com a  vasta inteligência eletrónica global. Ela estará ativa em todos os lugares do nosso ambiente e seremos obrigados a interagir com ela para realizar a mais simples das tarefas20. Na Internet do Pensamento não é difícil ver os contornos dum estado totalitário eletronicamente supercarregado, com um controle sem precedentes sobre os pormenores da vida dos indivíduos. A possibilidade de isso acontecer será aumentada pelos milhares de novas estações base de telemóveis e satélites que irradiam cada centímetro do planeta com ondas milimétricas. Pois isso é o que significa 5G: significa colocar em prática, não apenas um sistema de telecomunicações aperfeiçoado, mas sim um novo “sistema de sistemas” - a infra-estrutura do totalitarismo eletrónico.21

Uma cortina projectada contra a luz
Como o nosso mundo é cada vez mais sufocado por um nevoeiro de ondas de rádio, microondas e ondas milimétricas, pode parecer que os deuses do submundo colocaram a humanidade num aperto cada vez mais forte, atraíndo-nos para as luzes falsas - as luzes ilusórias dos seres do inferno e os fantasmas famintos que o Livro Tibetano dos Mortos há muito tempo advertiu contra. As energias eletromagnéticas que invocamos e que nos prometeram dar novos poderes, agora parecem estar a dominar-nos, levando-nos a um reino infernal de entretenimento e distração, de ilusão e desconexão da realidade que realmente importa - a realidade da natureza e da ordem espiritual que cria a natureza, a realidade das criaturas com as quais compartilhamos o nosso mundo, vivendo no solo e no céu e caminhando pela Terra ao nosso lado.
Devemos perguntar: a Terra precisa de um ecossistema eletrónico? Será que vamos beneficiar de alguma forma de sermos irradiados com ondas milimétricas? Existe realmente alguma necessidade de 5G? Podemos até mesmo conceber remotamente que o 5G é a resposta para qualquer um dos prementes problemas ecológicos, sociais e espirituais que enfrentamos hoje? Estamos num limiar terrível e, no entanto, render-se ao desespero não pode ser a resposta correta. O que podemos fazer?
Primeiro que tudo, podemos protestar! Existem campanhas contra o 5G que podemos participar, há petições para assinar, cartas para escrever e ações legais para apoiar. O melhor lugar para começar é o “International  Appeal  to  Stop  5G  on Earth and in Space” (Apelo Internacional para parar 5G na Terra e no Espaço), que agora reuniu cerca de 30 000 assinaturas, incluindo as de muitos profissionais de saúde, ambientalistas e outros cientistas.22 Mas além do protesto, há algo mais que precisa de ser feito, e isso é trazer a compreensão espiritualmente informada para o significado mais profundo do cérebro eletrónico global, cujo surgimento será acelerado. Para este fim, precisamos de desenvolver uma percepção clara da qualidade moral da eletricidade, para melhor reconhecer o tipo de entidade espiritual ou entidades que ela serve. Isso nos dará a capacidade de quebrar o encanto que a eletricidade e as tecnologias eletrónicas lançaram sobre nós, e nos permitirá formar um relacionamento mais apropriado com eles. Um dos insights mais úteis de Rudolf Steiner sobre eletricidade foi sua observação de que se trata de luz num estado degradado e caído - luz que caiu sob a natureza no reino subnatural - e é por isso que devemos nos proteger ativamente contra uma dependência cada vez maior dela, pois ameaça arrastar-nos para baixo.23
Isso aponta para uma terceira coisa que podemos fazer, que é realmente a base de todo o resto. É reconstruir nossa relação com a luz, que em sua benevolência e pureza altruísta nos saúda todas as manhãs e que, ao contrário das luzes eletrónicas falsas e ilusórias que nos levariam ao Mundo Inferior, nos acena numa direção bem diferente, em direção à nossa humanidade essencial. Através dum profundo relacionamento meditativo com a luz, praticado através das horas do dia e das estações do ano, podemos nutrir um relacionamento com a luz interior que é a fonte de tudo que é criativo e bom no mundo. Essa luz interior, que a tradição cristã conhece como o Logos cósmico. À medida que a cortina do nevoeiro electrónico é traçada pelo nosso mundo, é nos apresentada uma tarefa sagrada que é, aconteça o que acontecer, atendermos a tudo o que a luz tem para dar, pois aí está o divino Poder de Salvação.

Jeremy Naydler é um filósofo, historiador cultural e jardineiro que vive e trabalha em Oxford, Inglaterra. Ele também é o autor de “In the  Shadow of the Machine: The Prehistory of  the Computer and the Evolution of Consciousness” (Forest Row: Temple Lodge, 2018).

 ASSINAR A PETIÇÃO INTERNACIONAL: https://www.5gspaceappeal.org/sign-individual

Notas:
1.  One  of  the  best  sources  for  this  information  is  the  website   of   the   Global   Union   Against   Radiation   Deployment    from    Space    (GUARDS)    at    www.    stopglobalwifi.org,  and  the  related  Cellular  Phone Task   Force   website   at   www.   cellphonetaskforce.org.  Both  organisations  are  informed  and  inspired by  the  tireless  research  and  campaigning  of  Arthur  Firstenberg, to whom this article is greatly indebted.
2.  Source:     ISEE/ISEA     Conference:     Environmental     Epidemiology and Exposure. Paris, 5/9/2006.
3.  The rule is: the higher the frequency at which the wave oscillates, the shorter the wavelength will be.
4. Source: Qualcomm. July, 2018.
5.  Arno  Thielens  et  al.,  “Exposure  of  Insects  to  Radio-Frequency Electromagnetic Fields from 2 to 120 GHz”, Nature, 8: 3924 (2018): “The insects show a maximum in absorbed radio frequency power at wavelengths that are comparable to their body size... The studied insects that  are  smaller  than  1cm  show  a  peak  in  absorption  at frequencies (above 6 GHz), which are currently not often used for telecommunication, but are planned to be used in the next generation of wireless communication systems.”
6.  Cindy  Russell,  “A  5G  Wireless  Future”,  The  Bulletin(January/February,    2017,    pp.20-23    reviews    the    research,  and  lists  a  large  number  of  adverse  health  effects  of  millimetre  wave  electromagnetic  radiation  including  arrythmia,  antibiotic  resistance,  cataracts,  compromised immune system, etc.
7.  Source:  Arno  Thielens  et  al.,  “Exposure  of  Insects  to  Radio-Frequency Electromagnetic Fields from 2 to 120 GHz”, Nature, 8: 3924 (2018), fig.4.
8.  Kurt  Oughstun,  interview  on  “Brillouin  Precursors”,  Microwave  News,  22,  2  (2002),  p.10.  According  to  Oughstun,  a  professor  of  electrical  engineering  and  mathematics  at  the  University  of  Vermont,  “A  single  Brillouin  precursor  can  open  small  channels  through  the   cell   membrane   because,   as   it   passes   through   the membrane, it can induce a significant change in electrostatic potential across that membrane.” See also Arthur  Firstenberg  “5G    From  Blankets  to  Bullets”  January 17th, 2018), at www. cellphonetaskforce.org.
9.  Report   of   the   Advisory   Group   on   Non-Ionising   Radiation, Health    Effects    from    Radiofrequency    Electromagnetic Fields (2012).
10.  Sarah  J.  Starkey,  “Inaccurate  official  assessment  of radiofrequency safety by the Advisory Group on Non-ionising  Radiation”,  Review  of  Environmental  Health,  31:4 (2016), pp.493-503.
11.  The  Department  for  Culture,  Media  and  Sport  and  H.  M. Treasury, Next Generation Mobile Technologies: A 5G  Strategy  for  the  UK,  March,  2017,  which  sets  out  the  government’s  strategy  for  the  roll  out  of  5G,  does  not mention health and safety precautions.
12.  One of the best sources for this mountain of research is The BioInitiative Report (2012), which helpfully gathers it  into  manageable  sections,  and  is  regularly  updated.  It  can  be  accessed  online  at  http://www.bioinitiative  .org. According to the Report, between 2007 and 2012, approximately 1800 new studies demonstrated adverse health effects, i.e. on average 350 per year.
13.  National   Infrastructure   Report,   Connected   Future   (December,   2016),   p.11.   The   authors   argue   that   only  by  so  doing  could  the  UK  “take  full  advantage  of  technologies  such  as  artificial  intelligence  and augmented reality.” The report is available at www. nic.org.
14.   Ovum,   “5G   Economics   of   Entertainment   Report”   (October,  2018).  The  report  was  commissioned  by  Intel, and a summary is available at www. newsroom.intel.com.
15.  Mark Hertsgaard and Mark Dowie, “The inconvenient truth about cancer and mobile phones”, The Guardian, 14th July, 2018. The blatant funding bias was first exposed in  2006  by  Louis  Slesin,  “’Radiation  Research’  and  the  Cult  of  Negative  Results”,  Microwave  News,  26.4 (July,  2006),  pp.1-5.  A  good  summary  of  the  problem  is  given  in  “Bias  and  Confounding  in  EMF  Science”,  on the Powerwatch website: www. powerwatch.org.uk/science/bias.asp.
16.  The  Interphone  Study  is  devastatingly  critiqued  in  L.  Lloyd Morgan et al., Cellphones and Brain Tumors: 15 Reasons for Concern (2009), available online at www. electromagnetichealth.org.
17.  Ofcom,     Enabling 5G in the UK (March, 2018), pp.3-4.
18. Jacqui Goddard, “Facebook exploits human weakness, admits  former  boss  Sean  Parker”  The  Times,  10th  November, 2017.
19.  Ovum, “5G Economics of Entertainment Report”. See note 14 above.
20.   Maynard   Williams,   “Welcome   to   the   Internet   of   Thinking”, The Telegraph, 8th May, 2018.
21. Nokia White Paper, 5G    a  System  of  Systems  (www. Nokia.com).
22.  The  appeal  can  be  accessed  at  www.  5gspaceappeal.org.
23.  Rudolf  Steiner,  Anthroposophical  Leading  Thoughts  (Forest Row: Rudolf Steiner Press, 2007), p.218.